terça-feira, 26 de junho de 2012

Conheça o Samsung Galaxy S III ( Review )

Com a linha Galaxy, a Samsung redefiniu o mercado de smartphones. Com o Galaxy S e o Galaxy S II, a fabricante coreana criou um concorrente forte e invejável para os donos de iPhones, engoliu o mercado da Nokia e abriu espaço para se diferenciar dos demais concorrentes no Android. O Samsung Galaxy S III não é exceção e consegue manter o histórico de excelência e funcionalidade da família.

No mercado brasileiro, a Samsung tem outra vantagem: o único smartphone hoje no mundo capaz de concorrer com o S III em hardware e recursos não será lançado por aqui, o HTC One X, por conta da recente desistência da fabricante taiwanesa de vender por aqui.

Design

O Galaxy S III é grande. Não grande como seu irmão-foblet Galaxy Note e sua tela de 5,3, mas grande. A família Galaxy S sempre teve displays grandes – 4 no S, 4,27 no S II e agora 4,8 no S III. Aqui, o aparelho é largo e comprido (71 mm x 137 mm) por conta da tela, mas a Samsung compensou na espessura (8,6 mm) e no peso (133 gramas com bateria).

Design

O desenho do S III, à primeira vista, parece estranho e desengonçado. Tive essa sensação ao ver as fotos do aparelho no seu anúncio, que sumiu quando comecei a usar o telefone no dia-a-dia. As curvas nas bordas e a mínina curvatura da borda da tela conseguem cativar o consumidor. A única parte frágil mesmo parece o botão central do aparelho (por conta de desgaste de uso com o tempo) e a cobertura plástica na parte traseira, que pode riscar em bolsos e bolsas cheias de coisas.

A tela HD Super Amoled 4,8 com resolução 1280 x 720 é estonteante (lembre que a outra tela 720p do mercado está com o Sony Xperia S). Textos ficam nítidos e, por conta do tamanho grande, é ótima para assistir vídeos e navegar entre as fotos tiradas com o S III.

Pela primeira vez em um aparelho Galaxy não percebo que a tela "carrega" demais os tons laranja/vermelho no modo de tela padrão. E se você achar que as cores puxam demais para o azul frio, basta corrigir o modo de tela nas configurações do aparelho (modos dinâmico, mais forte, e natural/filme, mais suaves, também estão disponíveis). Para ter uma ideia da resolução, veja uma captura em tamanho real.

Hardware

O Galaxy S III tem o hardware mais poderoso em um smartphone à venda no Brasil hoje. Além da supertela protegida por Gorilla Glass 2, processador quad-core de 1,4 GHz (Exynos 4212 Quad), 16 GB de armazenamento (no modelo testado) com expansão via cartões microSD, câmera de 8 megapixels/1080p (traseira) e 1,9 megapixel/720p (frontal), rádio FM com RDS e vários truques de software (mais sobre isso adiante) que aprimoram o Android 4.0.

Na frente do aparelho, vemos a tela gigante. Acima dela, a câmera frontal e dois sensores de luz/movimento, além do alto-falante. Abaixo, o botão central e dois auxiliares (menu/voltar) sensíveis ao toque e retroiluminados.

de frente

Atrás, a câmera de 8 megapixels com flash LED e um alto-falante. 

Visto por trás

Na lateral direita, o botão de liga-desliga – e note como o acabamento prateado cria a sensação de curvatura do aparelho. Senti falta de um botão disparador para a câmera.

botão liga-desliga

No lado esquerdo, o controle de volume e só.

controle de volume

Acima, o conector para fones de ouvido padrão 3,5 mm, a pequena ranhura para abrir a bateria e um microfone de redução de ruído nas ligações.

saída para headset

Abaixo, o conector microUSB para carregar a bateria e trocar dados com o PC/Mac, e o microfone. Nada de saída de vídeo HDMI, algo comum em outros aparelhos topo de linha (Xperia S, por exemplo), mas não faz falta.

conector microUSB

Abrindo a tampa traseira, nada além do esperado – ou quase.

Sem a tampa traseira

A bateria de 2.100 mAH padrão, o slot para microSD (abaixo, à esquerda) e a entrada para o microSIM card da operadora.

Sem a tampa traseira e a bateria

A mesma bateria revela uma pequena surpresa: o módulo NFC (Near Field Communications) está integrado nela.

Bateria com NFC

Dentro da caixa do aparelho, além do manual, nada além do esperado: um cabo USB/microUSB com tomada…

cabo USB + tomada

E um headset com microfone, controle de volume e fones do tipo in-ear (e borrachinhas de tamanhos diferentes para trocar).

Headset

 O tamanho importa

A Samsung entendeu, com o Galaxy Note, que telas muito grandes em aparelhos que cabem no bolso interessam ao consumidor. Por isso, o S III tem sua tela de 4,8 polegadas. Para efeito de comparação no mundo Android, veja como um HTC One S (tela de 4,3) parece pequeno ao lado dele.

Galaxy S III ao lado do HTC One S

 O modelo da HTC cabe inteiro e com folga em cima do S III – e, digamos, 4,3 não é uma tela pequena também. Se botar um iPhone 4S, também cabe inteiro em cima da superfície do S III.

HTC One S em cima do Galaxy S III

E chegamos ao ponto que eu queria chegar: o principal trunfo do Samsung Galaxy S III – a tela grande – é também seu maior calcanhar de aquiles. Vai um pouco além do que os manuais de usabilidade e ergonomia podem prever: nem sempre seu dedão vai chegar ao topo esquerdo da tela, pelo simples fato de que a tela é maior que a capacidade de estender seu dedo. E dói, viu? Depois de alguns dias usando o S III (não posso reclamar que tenho uma mão pequena), sinto um incômodo crescente.

Para visualização: o S III na minha mão, apoiado no centro da palma. Ao tentar tocar a área de notificações, o dedo não chega. Existe um limite onde as telas de smartphones podem chegar ao usar com uma mão apenas, e esse limite foi ultrapassado nessas 4,8 polegadas de tela (6,1 cm de largura, 10,7 cm de altura, mais 0,4 mm de borda).

Mão masculina

 Para mulheres, então, o problema pode ser maior:

Mão feminina 1

E maior:

Mão feminina 2

 Não desgosto por completo do tamanho do S III, mas é hora de os fabricantes começarem a pensar em novos modos de interação com o dispositivo usando duas mãos ou a fazer aparelhos poderosos um pouquinho menores. Para mim, hoje, 4,3  de tela é o limite.

Aplicativos

Por vir direto da Samsung desbloqueado, nossa amostra do S III veio sem nenhum crapware de operadora, e a própria fabricante não incluiu (ainda) nenhum conteúdo de parceiros. A interface TouchWiz é a mesma do Galaxy S II, com pequenas alterações.

Visto de frente

O S III vem com três aplicativos principais da Samsung instalados: o S Memo, para tomar notas e desenhar (algo herdado do Galaxy Note)…

O S Suggest, lojinha de sugestão de aplicativos complementar ao Google Play (requer uma conta Samsung).

E o S Planner (não mostrado aqui), uma extensão do calendário do Android com interface modificada.

Mas o que interessa é o que não vem no S III brasileiro por não falar português: o S Voice, a "Siri" da Samsung (não vem instalado, mas consegui encontrar no Samsung Apps – mas não aparece mais lá). Funciona? Funciona. Dá para ver a previsão do tempo…

E eu consegui, entre um ou outro erro, programar o envio de um SMS usando apenas a voz. Divertido, sim, mas mesmo quando vier em português vai precisar de treinamento do consumidor para se habituar a falar com seu telefone.

O S III vem ainda cheio de pequenos detalhes adicionais no software, exclusivos da Samsung. Se está com um SMS aberto, basta aproximar o telefone do ouvido e a ligação é feita sozinha (cool!), o aparelho fica com a tela ligada quando "percebe" que você olha para ela e, da série "para que isso?", dá para ver um vídeo em uma janelinha menor enquanto mexe em outros apps/menus.

Picture in Picture no Samsung Galaxy S III

O que é interessante no software – e na integração com o hardware – é o S-Beam e o Wi-Fi Direct. O primeiro é mais curioso, mas menos prático (testei com o S III que está com o Gizmodo). Você escolhe uma foto, por exemplo, toca a traseira do outro telefone com seu aparelho e envia a imagem. Divertido, mas limitado.

A mesma coisa (enviar arquivos) pode ser feita também por Wi-Fi Direct, novo padrão que está presente em outros aparelhos do mercado hoje (como o HTC One S). Os dois dispositivos conversam sem fios e não precisam encostar um no outro. Mais simples e direto.

Uma outra boa mudança na interface é a multitarefa em lista com miniaturas, como já ocorria nos tablets com Android 3.0.

 E da série "pequenas frescuras que podemos inserir no aparelho", as miniaturas de vídeo ficam em movimento, dando uma prévia em tempo real de todos os vídeos. Por sinal, o S III rodou arquivos AVI e MKV quase sem problemas (o MKV ficou sem som).

 E na música, a opção "Salão de Música" encontra arquivos no aparelho de acordo com seu estado de espírito. Divertido.

Câmera

Com 8 megapixels de resolução (4:3), vídeos em 1080p (+captura de fotos durante uma filmagem), a câmera do Galaxy S III é a melhor encontrada em um aparelho Android topo de linha hoje. Traz resultados incríveis e muito rápidos.

câmera

Deixar a câmera no modo automático já cria boas imagens em macro, como meu chá de jasmim:

Mas a câmera tem opções de HDR, capturando uma foto sem efeito:

E uma com HDR, melhorando demais o contraste mesmo em um local com iluminação fraca.

No escuro, os resultados são OK.

E de dia, com luz boa, são impressionantes. Essa é a foto do céu reduzida a 640 pixels de largura:

E um recorte dela a 100%. Pouco ruído, bons detalhes.

Vamos testar nos gatos?

Aqui, surge ruído, mas no geral a foto é impressionante nos detalhes.

Além disso, a câmera do Galaxy S III é rápida: no modo disparo único, se você ficar pressionando o disparador, consegue tirar cinco ou seis fotos seguidas. Merecem destaque ainda o modo "beleza" (um microPhotoshop em tempo real aplicado à pele de humanos) e o disparo contínuo, que tira várias fotos na sequência para você escolher a melhor.

Desempenho

Entre os aparelhos com Android avaliados, o Galaxy S III tem os melhores resultados, graças ao processador quad-core de 1,4 GHz e o Android 4.0. Veja a evolução dos modelos em desempenho nos benchmarks padrão que usamos para avaliar smartphones:

Sua bateria também é impressionante: após quase 12 horas de uso intenso (3G, GPS, e-mail, ligações, roaming, Twitter, Foursquare, Facebook, Internet, SMS), o Galaxy S III atingiu a marca de 40% por dias seguidos. Para efeito de comparação, na geração anterior esse número chegou a 11% no final de um dia. Na prática, o Galaxy S III é bom em desempenho e em bateria.

Conclusões

Com hardware excelente e uma ótima integração de software e sistema operacional, o Samsung Galaxy S III é o aparelho que deve servir de exemplo para os concorrentes como "produto ótimo a ser atingido". A Samsung segue forte para liderar de vez o concorrido e lucrativo mercado de smartphones, e o S III é só mais um passo nessa direção. Hardware e software integrados oferecem uma incrível experiência ao usuário. Isso, claro, tem seu preço alto – desbloqueado, o S III tem o valor sugerido de R$ 2.099. É um topo de linha nos Androids, e continuará a ser pelo próximo ano, como já ocorreu com a geração anterior.

Eu, particularmente, não gosto muito da tela gigante, mas não é um impecilho decisor de compra (afinal, o S III cabe bem no bolso da calça e nem faz muito volume), e o design nem sempre agrada à primeira vista. De qualquer modo, indicamos sem medo a compra do Samsung Galaxy S III.

 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Conheça uma das cinco casas mais relaxantes do mundo

Talvez esteja Sol e quente ou chuvoso e frio lá fora, mas provavelmente você está, neste momento, em um cubículo no seu escritório climatizado. Em qualquer caso, você não preferiria estar em uma dessas casas de férias agora? Elas provavelmente são as construções mais bonitas e relaxantes do planeta. Ou pelo menos estão entre as dez mais. Sonhe.

1. Universe House, México

Universe House, México.
Criado pelo artista mexicano Gabriel Orozco e a arquiteta Tatiana Bilbao, o design da Universe é baseado no Observatório Astronômico Jantar Mantar, construído em Jaipur no ano de 1724. Orozco, que visitou o observatório em 1996, queria uma casa que capturasse o conceito das construções indianas. O escritório de Tatiana desenhou as detalhadas plantas a partir de seus rascunhos e um time construiu a casa no modo tradicional, o que incluiu a ajuda de um burrinho chamado Panchito, que transportou alguns dos materiais e pedras para esse local isolado no Mar de Cortez.

2. Casa 11 Mujeres, Chile

Casa 11 Mujeres, Chile.
Dividido em três andares, a Casa 11 Mujeres (que tem esse nome porque foi construída para um casal com 11 filhas com idades entre quatro a vinte anos) foi construída com concreto, piso de madeira, vidro e aço em uma encosta inclinada em 45º na praia de Cachagua, a 140 km de Santiago. O térreo contém espaços comuns, enquanto o primeiro andar tem os quartos das filhas (todos com visão para o mar) e o último piso conta com a suíte, cozinha, salas de estar e de jantar.

3. Playa Carate, Costa Rica


Praia Carate, Península de Osa, Costa Rica. 5% da biodiversidade mundial está nesse local, um perfeito paraíso na Terra. De alguma forma, alguém construiu esta casa lá. Recheada de tecnologias verdes, ela não é só bonitinha; é 100% auto-suficiente.
Criado pela Robles Arquitectos, a casa é tão isolada da civilização que não tem acesso aos serviços públicos de energia elétrica, saneamento básico ou água potável. Para o último, a casa usa a água que vem da floresta, a qual também serve para gerar energia graças a duas turbinas hidrelétricas de baixo impacto que geram 800 kWh. Além dos geradores, o telhado é capaz de fornecer 10800 kWh de eletricidade graças aos seus painéis. Outros painéis aquecem a água.

4. Fish House, Cingapura

Fish House, Cingapura.
Dane-se aquele duplex de 1800 m² no Central Park, a casa de US$ 100 milhões em South Kensington ou o apartamento do século XVII com vista para Notre Dame. Fish House! A obsessão por propriedades encontra respaldo aqui.
Feita de madeira, aço e vidro, vidro e mais um pouquinho de vidro, a Fish House é uma casa ecológica à beira mar em Cingapura.

5. Villa Amanzi, Tailândia

Villa Amanzi, Tailândia.
Villa Amanzi (desenhada pela Original Vision e construída em 2008) deve ser um dos locais mais espetaculares do mundo. Tem como não amar tudo dali? Encrustada em uma colina de 60 metros acima das águas azuis do Mar de Andamão.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Eduardo Saverin, o brasileiro do Facebook, conta sua história

Em entrevista exclusiva a VEJA desta semana, cofundador da rede social revela os detalhes dos primórdios da empresa, diz por que o filme baseado na origem da companhia é um amontoado de ficções e anuncia seu desejo de investir no Brasil

Fábio Altman, de Singapura
CORDIALIDADE - Saverin, no centro financeiro de Singapura, onde vive desde 2009: "Não tenho ressentimento algum do Mark" (Gilberto Tadday)


Em 11 de maio, uma semana antes da abertura de capital do Facebook na bolsa de valores das empresas de tecnologia, a Nasdaq, o blog Bits, do New York Times, cometeu um erro antológico. Ao fim do texto — "Um fundador do Facebook renuncia à cidadania americana", informava a chamada —, vinha a constrangedora e necessária confissão do risível equívoco: "Uma versão anterior deste texto incluía uma foto publicada erronea­mente; ela mostrava Andrew Garfield, o ator que interpretou Eduardo Saverin no filme A Rede Social, e não o próprio Saverin". Quem recorda a derrapada do jornalão nova-iorquino, lembrança atrelada a um sorriso de Gioconda, incapaz de fazer aparecer os dentes, quase envergonhado, é o próprio Eduardo Saverin. Ele vive uma curiosa condição — a de precisar comprovar, em seu discreto cotidiano de Singapura, onde mora desde 2009, que não é como o personagem do filme e que Garfield, o próximo Homem-Aranha das telas, pode até interpretar muito bem, mas o Saverin de Hollywood nada tem a ver com o Saverin real. "Aquilo é Hollywood, não é documentário", diz, com o sotaque que mistura a típica toada paulistana de quem viveu no Brasil até os 10 anos com o inglês de quem cresceu em Miami, formou-se em Harvard e ficou bilionário por estar no centro de uma das mais espetaculares criações de nosso tempo: o Facebook, de quase 1 bilhão de curtidores e valor de mercado próximo aos 100 bilhões de dólares. Saverin é o sócio número 2 desse clube (cujo primeiro endereço foi registrado na casa dos pais do brasileiro em Miami, ainda como Thefacebook, em 2004), atrás apenas de Mark Zuckerberg. O resto é história.
Ressalte-se que o próprio Saverin contribuiu para o embaralhamento público de seu ego com o alter ego do cinema. Avesso a qualquer contato pessoal que exclua amigos de confiança — "no Facebook não gosto de exibir minha privacidade", diz —, ele tem sido um grande mudo, incapaz de meter seu nariz adunco e as calças Diesel de modelo rasgado onde não é chamado, desde que foi passado para trás por Zuckerberg, recorreu à Justiça, reconquistou o direito de ter quase 5% de ações da empresa (o equivalente a 5,8 bilhões de dólares, talvez um pouco menos, com a oscilação para baixo dos papéis na Nasdaq) e seu nome devolvido ao rol de fundadores. Não falou por imposição de contrato e simplesmente porque não queria falar, protegido pela timidez. É uma fase que termina agora. Saverin recebeu VEJA com exclusividade. Ao contar parte de sua trajetória, a verdade vista por quem a viveu, demole alguns dos mitos que o cercam.
É verdade que a família Saverin deixou o Brasil, em 1992, porque tinha sido incluída numa lista de possíveis vítimas de sequestradores? Não. Aqui quem recorda é o pai, Roberto Saverin, dono de uma companhia exportadora de remédios em Miami. "Sempre quis morar nos Estados Unidos, era um sonho que decidi alimentar porque o Brasil estava em crise, o Collor tinha congelado a poupança, não estava nada fácil", diz. Roberto migrou para fazer a América com a mulher, psicóloga, e três filhos — Eduardo, uma irmã dois anos mais velha que ele e um irmão, o primogênito. Foi somente alguns anos depois, já nos Estados Unidos, que Roberto soube que Eugênio Saverin, seu pai, judeu romeno que montou no Brasil uma das mais conhecidas lojas de roupas infantis de São Paulo, a Tip Top, aparecera numa lista de supostos sequestráveis.
É verdade que Saverin arremessou um notebook em cima de Zuckerberg, como aparece numa das melhores cenas de A Rede Social? Não. "Jamais faria isso, muito menos com o Mark", assegura, e cinco minutos de convivência com sua calma etérea indicam ser muitíssimo improvável, para não dizer impossível, que ele reagisse daquela maneira. É verdade que Saverin leva vida de príncipe árabe em Singapura, rodeado de mulheres e festas nababescas regadas a Moët & Chandon? Não, nada além do que seus 30 anos e o dinheiro autorizem.
Quanto às mulheres, sabe-se de uma única, a namorada nascida na Indonésia que lhe ensinou a arte de tirar os sapatos antes de entrar em casa e cuja personalidade retraída emparelha com a do brasileiro. É verdade que ele vive no prédio mais alto de Singapura, debruçado para o Oceano Pacífico emoldurado por uma cordilheira de arranha-céus modernosos? Não. Saverin muito recentemente deixou o apartamento que dividia com um amigo americano para morar sozinho em um bairro um pouco mais afastado do burburinho. É um condomínio de luxo, sim — uma penthouse foi vendida ali no início de maio pelo equivalente a desavergonhados e quase inacreditáveis 27 milhões de reais —, mas perfeitamente compatível com sua fortuna, construída a partir do sucesso do Facebook (ainda que a derrapagem das ações tenha lhe subtraí­do 230 milhões de dólares em uma semana), e com o padrão altíssimo de Singapura.
Gilberto Tadday
LUGAR DE TRABALHO - No escritório dentro de seu apartamento, sem secretária, ele opera três telas de computador ao mesmo tempo - uma delas sempre ligada em prognósticos de furacões e tempestades, mania desde a infância

Um dos quartos do apartamento serve de escritório. Saverin não tem secretária. São três monitores Mac de 27 polegadas que dividem a atenção com um iPhone e um iPad, permanentemente acessados. A partir desse conjunto eletrônico ele dispara pedidos de compra de ações e investimentos com conselheiros e advogados na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos — um deles é seu irmão. A diferença de fuso horário de Singapura para o resto do mundo o faz trabalhar até dezesseis horas por dia. Viaja muito, às vezes quatro vezes por mês, a ponto de saber de cor horários de voos e quando o vento sopra a favor ou contra as aeronaves. Uma das telas de computador está sempre ligada em sites e programas de estudo e simulação de furacões, tsunamis e derivados. É interesse que vem da infância, quando olhava para as nuvens. Em algum momento ele chegou a ganhar dinheiro em mercados futuros de commodities afetadas pelas intempéries da natureza. Não mais, agora é apenas o prazer científico, só comparado a sua paixão pelo xadrez, também trazida lá de trás. Os pais lembram-se do dia em que Saverin, então com 13 anos, ganhou uma partida de um mestre internacional em Orlando. Foi um feito tão fora da curva que virou notícia de uma revista da Associação Internacional de Xadrez. Quando estava prestes a dar o xeque-mate, ele se virou para a mãe, Sandra, e pediu licença: "Acho que vou ganhar, será que vai pegar mal?". Ante a aquiescência materna, encurralou humildemente o adversário.
Saverin age como quem joga xadrez — tenta antever o que virá depois, em lances ora agressivos, ora cautelosos. Dos pais e de Harvard aprendeu que errar muito é o caminho mais curto para acertar, mesmo pouco. Negociador, é nato. Antes de ir para os Estados Unidos, pré-adolescente, vendeu um videogame para um amigo, com quem também dividia o fascínio por Michael Jackson, mas disse ao pai que só embarcaria se ganhasse outro. Levou o que pediu e, de quebra, foi presenteado com um micro Packard Bell, seu primeiro. "Hoje tenho investido como louco", diz. Pôs dólares em dezenas de empresas dos Estados Unidos, Europa e Ásia como investidor-anjo, figura nascida no Vale do Silício. Algumas já andam bem. Quer entrar no Brasil, "porque está em meu coração, sou brasileiro, é o lugar onde nasci", mas ainda não descobriu uma boa janela. Recentemente, em trocas de e-mails, esbarrou em mensagens copiadas para Eike Batista — mas essa ainda não é sua porta de entrada brasileira. Não quer minérios, a não ser que tenha alguma relação com silício, com tecnologia. Insistente, tenta achar um novo Facebook.
Mas onde ele está? "Na área de tratamento de saúde, acho", afirma. Ao amigo com quem dividia o apartamento, com quem compartilhou o quarto em Harvard no tempo da gênese do Facebook e com quem deu a volta ao mundo em 2009 até parar em Singapura (o.k., não eram mochileiros), entregou 500000 dólares para os primeiros passos de uma empresa, a Anideo, que já faz games de sucesso e um agregador de vídeos. "Naquele tempo do começo do Facebook, eu jogava beisebol e tinha namorada, estava perto fisicamente mas longe no negócio, aí não fiquei rico", brinca Andrew Solimine, o segundo Andrew mais importante da vida de Saverin. O primeiro é o furacão Andrew, que em agosto de 1992 passou por Miami, devastador. "Fiquei fascinado, e, tendo já alguma informação científica, consegui ir até o olho do furacão, literalmente", conta Saverin.
Olho do furacão que não se compara, em força, ao vivido nas duas últimas semanas, depois que a imprensa divulgou sua renúncia à cidadania americana, supostamente para evitar os 15% de impostos sobre ganhos de capital — taxa que inexiste em Singapura e lhe poupou pelo menos 67 milhões de dólares. Acusaram-no até de ingrato e traidor, por não devolver aos Estados Unidos o que os Estados Unidos lhe deram. Saverin nega que tenha fugido do leão do imposto. "A decisão foi apenas baseada no meu interesse em trabalhar e viver em Singapura", diz. "Sou obrigado e pagarei centenas de milhões de dólares em impostos ao governo americano. Paguei e continua­rei a pagar as taxas devidas sobre tudo o que ganhei enquanto fui cidadão dos Estados Unidos." O pai, Roberto, a quem Eduardo tem como ídolo e mentor, revela novos detalhes dessa escolha: "Foi duro também para mim, que construí nova vida nos Estados Unidos, quando o Eduardo disse que teria de renunciar à cidadania. Fez isso não exatamente porque quisesse, mas porque não tinha alternativa, vivendo em Singapura. Toda movimentação financeira lá é mais restrita e burocratizada quando se tem o passaporte americano. Não havia outro caminho". E nos Estados Unidos, admite o pai, sobretudo depois do IPO do Facebook, "seria muita pressão para ele".
Saverin tende sempre a contemporizar, porque é de sua índole, mas também porque não é bobo, e uma palavra fora de lugar pode retornar como um bumerangue. Instado a comentar um dos e-mails enviados por Mark Zuckerberg a outro cofundador do Facebook, Dustin Moskovitz, revelado há poucos dias, Saverin não pisca nem mexe as grossas sobrancelhas, revelando algum incômodo. Escreveu Mark, em 2005: "Ele deveria criar a empresa, obter financiamento e fazer um modelo de negócios. Falhou em todos os três. Agora que eu não vou voltar para Harvard, não preciso me preocupar em ser espancado por bandidos brasileiros". A resposta de Saverin, agora: "Só posso falar bem do Mark, não tenho ressentimento algum; é admirável o foco dele desde o primeiro dia até hoje — foi um visionário, sempre soube que o Facebook só cresceria se mantivesse a ideia central, a de as pessoas se apresentarem verdadeiramente, sem pseudônimos. é a grande força do Facebook, o que permitiu transformá-lo em um instrumento de protesto, como no Egito, mas também de negócios, além do contato natural com amigos".
Personagem decisivo da ainda jovem trajetória das redes sociais, Saverin ensaia outro pulo, o dos meios de pagamento eletrônicos — cerne de alguns de seus investimentos mais pesados, entre eles uma extraordinária ideia de doação para entidades beneficentes do México por meio de cartão de crédito, sem burocracia. "O Eduardo não apenas é cofundador, mas também investidor e membro do board do negócio", diz Aldo Alvarez, o CEO do Aporta — eis o nome da inovação. "Ele não apenas entrou com o dinheiro crucial para iniciarmos a operação como contribuiu com um conhecimento tecnológico extraordinário."
Sempre modesto, Saverin parece não admitir a grandeza do que ajudou a erguer — o Facebook, ou Fakebook, depois das confusões acionárias da semana passada - e daquilo em que se transformou, globalmente. Acha que tem o gene do empreendedorismo porque o herdou dos avós. "Todos, sempre, acabamos fazendo alguma coisa", resume. Os pais conhecem essa admiração de Saverin pelo passado da família. Na semana passada, enviaram um e-mail para o filho. Ele resume, a um só tempo, esse olhar em busca das brechas de oportunidades — típico de Eugênio Saverin, o tecelão da Tip Top, o avô do Facebook — e o jeitão típico de uma família brasileira que foi para os Estados Unidos e viu o filho encaminhar fenomenais mudanças planetárias. Diz a mensagem, atrelada a uma foto: "Dudu. Seu avô Eugênio recebeu do então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em 29 de maio de 2002, o título de Oficial da Ordem de Rio Branco, um título muito prestigioso que só é dado a pessoas que contribuíram para o desenvolvimento e o progresso do Brasil. Beijos, papai e mamãe". Dudu já tem uma vida cheia de história — e, no entanto, nasceu apenas em 1982, na franja da grande virada iniciada por Steve Jobs e Bill Gates e que culminaria na rede social de Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, rede que do início ao fim da leitura desta reportagem terá recebido 29 milhões de "curtir".