segunda-feira, 2 de abril de 2012

Motorola Xoom 2

Frente do Xoom 2.

Há quase um ano analisamos o primeiro tablet com Android, o que deveria ser o primeiro grande concorrente do iPad. Com o Android 3.0 "Honeycomb" puro, hardware que em números absolutos superava tudo o que havia na época (leia-se iPad) e a promessa de gerar competição no segmento de tablets, o Xoom original meio que falhou nos seus objetivos. E feio. Agora em versão renovada e com um "2 à frente do nome, será que as mudanças feitas pela Motorola melhoraram tanto o tablet a ponto de torná-lo a referência que seu antecessor não foi?

Hardware

Para evitar dor de cabeça judicial com a Apple e aproveitando o formato bacana do RAZR, temos aqui um form factor que, se não é original, é pelo menos diferente. Os cantos do Xoom 2 são levemente "achatados", detalhe que não interfere no uso mas ajuda a compôr um visual único em meio à uniformidade dos tablets. E já que tocamos no assunto, em relação ao iPad o Xoom 2 é mais leve (599g) e tem a mesma espessura do iPad 2 (8,8mm).

Traseira do Xoom 2.

A borda do tablet é emborrachada e, nas laterais, se estende para a traseira melhorando a pegada do tablet que, a exemplo de todo Android, foi concebido para ser usado primariamente em modo paisagem.

O posicionamento de botões foi levemente modificado para melhor nessa revisão do Xoom — tudo agora parece mais com o Galaxy Tab, da Samsung. A câmera traseira foi centralizada e o botão de travar a tela reposicionado próximo aos de volume. Seriam mudanças perfeitas não fosse a dificuldade de apertar esses três botões — duros, quase indistinguíveis entre si e com baixo relevo, apertar o certo de primeira é um desafio irritante de alguns dias até pegar o jeito e, mesmo depois disso, continua sendo uma operação desagradável.

Botões laterais do Xoom 2.

As portas são três: uma saída de som de 3,5mm no topo e conexões microUSB e mini-HDMI na parte inferior. Ao lado dessas duas, ficam, guardados por uma tampa facilmente removível e segura o bastante (nada do tipo "não olha feio que eu quebro"), slots para cartão microSD e, se for o caso, cartão SIM (3G). Atrás, fica a atualizada câmera de 5 MP com flash de LED e, mais acima, as potentes saídas de som.

Conexões inferiores do Xoom 2.

Uma das coisas mais criticadas no primeiro Xoom, a tela teve uma bela melhora. No review do ano passado, o Leo comentou que "em situações cotidianas, como no browser, a tela não é exatamente empolgante — não espere muito brilho, contraste ou ângulo de visão no nível do principal concorrente ou dos vindouros tablets coreanos." No Xoom 2, a tela está a par com as de outros tablets topo de linha e o novo painel IPS garante ângulos muito bons de visualização (diz a Motorola que chega a 178º e eu não duvido). Infelizmente nota-se, especialmente ao lado de outros gadgets, um leve tom que pende para o amarelado. É tão sutil que só percebi ao colocá-lo lado a lado do iPad, mas é o tipo de coisa que depois de vista, não sai da cabeça…

Comparativo de tela.

Do lado esquerdo, o amarelado Xoom 2; à direita, o iPad 2

No geral os ganhos em termos de hardware são interessantes e fazem diferença no dia a dia, embora não haja nada que se sobressaia em relação a outros equipamentos do tipo.

Câmera

Câmera traseira do Xoom 2.

É sempre estranho falar em câmeras de tablets porque, hey, tirar fotos com tablets é uma coisa estranha. Apesar dessa opinião quase unânime, as fabricantes têm investido em melhorias e com o Xoom 2 não foi diferente.

A traseira tem 5 MP, foco automático e um flash de LED. O app nativo não permite o uso do "tocar para focar", o que é um tremendo desperdício dado o tamanho generoso da tela. Na hora de fazer fotos, os resultados são medianos: bons em ambientes externos com muita luz, terríveis dentro de casa ou à noite. A câmera também filma em 720p a 30 fps com resultados igualmente medianos. Alguns exemplos (clique para vê-los em tamanho natural):

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A câmera frontal tem 1,3 MP e qualidade suficiente para ser bem visto pelo interlocutor — o modelo também ajuda, sabe como é.

Software

Aqui a coisa aperta — pra variar. O Xoom foi o tablet flagship do Honeycomb, o responsável por mostrar a força do Android em tablets e… bem, ficou aquela sensação de coisa inacabada, feita às pressas e cheia de bugs. Agora na versão 3.2 (nada de Ice Cream Sandwich por ora), muitas arestas foram aparadas, mas o sistema ainda está longe da responsividade e fluidez que se espera de uma NUI (natural user interface).

Xoom 2 no escuro.

A Motorola pegou bem leve na personalização. Não há nada muito mirabolante, apenas alguns ícones trocados (e todos de bom gosto, diga-se) e a inclusão de apps pré-instalados, vários com foco corporativo e alguns mais casuais, como Netflix, leitor de ebooks da Saraiva, NOVA 2 HD e uma versão de 60 minutos de Need For Speed Hot Pursuit.

Na hora de embarcar no Google Play, não há muito o que fazer lá. O bom é que agora ele funciona em modo retrato (aleluia!) , mas são poucos os apps adaptados e a seleção do Google não é lá muito criteriosa, então fica difícil encontrar as raras pérolas que salvam a experiência androidiana em tablets de um completo fracasso. E não bastasse isso, há algumas coisas inexplicáveis como a incompatibilidade de alguns jogos parrudos e recentes da Gameloft, como Aphalt 6 Adrenaline e Block Breaker 3. Paguei 18 centavos neles e nem pude brincar :-/

Merecem destaque, dentre os pré-instalados, o Dijit, que permite usar o sensor infravermelho do Xoom 2 para controlar a TV e funciona muito bem, e o Motocast, que faz o tablet "conversar" com o computador (Windows e OS X). Ele exige o Java no PC para funcionar (boo!) e funciona razoavelmente bem, embora coloque fotos, música e vídeos em uma outra interface, longe dos apps nativos para essas funções, o que cria uma espécie de redundância dentro do Android. De qualquer forma, pelo Motocast também dá para baixar esse conteúdo pela rede wireless e, então, aproveitá-lo nos devidos apps.

MotoCast em ação.

A sensação de produto inacabado foi atenuada em mais de um ano de releases até chegarmos à versão 3.2.2 que equipa o Xoom 2, mas ela ainda persiste e continua forte. O Android, por melhor que seja no smartphone (e lá ele está num nível bem legal), em tablets ainda precisa comer muito arroz com feijão — e dividir o rango com os desenvolvedores terceiros, afinal a maior fraqueza da plataforma é a escassez de bons apps para telas grandes.

O que agradou

Há coisas bem legais e únicas neste Xoom 2 e talvez o maior destaque seja o sistema de som. Mesmo com um speaker a menos em relação ao Media Edition, o áudio "3D virtual surround", seja lá o que for na prática, faz a diferença. Fica longe de substituir caixinhas dedicadas de boa qualidade e, se colocado em volume máximo, faz o tablet vibrar em níveis desconfortáveis, mas está bem acima do que se esperaria de um equipamento do tipo nesse ponto.

Outra coisa curiosa e bem bacana é o sensor infravermelho. Para mostrar o potencial desse item, vem pré-instalado o app Dijit que controla televisores, players de DVD e de TV a cabo. A configuração é simples, basta começar a digitar o modelo do seu equipamento e o app vai filtrando. Com tudo configurado, aparece uma espécie de controle remoto gigante na tela que, wow, funciona perfeitamente. Testamos o recurso em duas TVs, uma LED da Samsung e outra de tubo da Phillips, em ambas correu tudo bem. Não é algo revolucionário e o tamanho do tablet joga contra a ideia de usá-lo com controle remoto, mas pode ser um belo complemento à ideia de uso do Xoom 2 como "segunda tela", conceito que vem ganhando força nos últimos meses.

Olha mãe, sem o controle remoto!

O que desagradou (bastante)

Se tem uma coisa que permanece intacta em relação ao primeiro Xoom nessa revisão, é a sensação de que o Android não está pronto para tablets. Comparar este ou qualquer outro com o iPad beira o injusto.

A tela inicial parou de dar aquelas engasgadas constrangedoras, mas ela ainda guarda algumas anomalias bobinhas que, juntas, tornam a experiência um tanto frustrante. Ao voltar de algum aplicativo ou tendo alguns abertos, ícones e widgets precisam ser "redesenhados" na tela; vira e mexe o wallpaper padrão, o mosaico verde, reaparece rapidamente ao entrar e sair de apps mesmo quando outro está sendo usado; a lentidão para rotacionar a tela é irritante… São esses pequenos detalhes que se estendem por todo o sistema que prejudicam a experiência. Ainda tem a impressão de que não importa o quão poderoso seja o hardware, a responsividade dos toques não se iguala à do iPad ou mesmo à do Android em telas menores.

No quesito apps (ah, os apps…), não bastasse a oferta ser baixa, os poucos adaptados são bem ruins, mal feitos. Testei Firefox, WordPress, TweetCaster, Plume e alguns outros e nenhum chegou perto do nível de excelência relativamente comum no iOS. Uns podem dizer que é culpa dos desenvolvedores, eu vejo isso como uma falha da plataforma — se ela é incapaz de estimular os devs, tem algo errado num nível mais profundo, certo? A única coisa que funciona lindamente são alguns apps nativos do Google (Gmail, GTalk) e o navegador, ou seja, pouco para salvar o tablet.

Quando a Apple anunciou o iPad muitos o chamaram de "iPhonão" e, bom, acabou que não era bem assim. No Android a impressão de que estamos brincando com um "Androidão" é muito mais evidente, e nem digo pelos apps populares que esticam e parecem linguições ou versões WAP; todo o sistema passa essa sensação e até áreas que seriam vantagens se bem exploradas, como as telas iniciais e os widgets, são esquisitas para dizer o mínimo.

Conclusão

Droid no Xoom 2.

O Xoom 2 parece mais com o Xoom que deveria ter saído um ano atrás: erros de projeto (ou más escolhas) foram revisitados e corrigidos, as configurações agora estão a par com a do restante da categoria, o software, embora continue ruim, pelo menos não parece mais estar em estágio beta.

Apesar dos avanços, o Xoom 2 evidencia, como fazem outros tablets Android premium, o quanto a plataforma ainda é prematura, carente de atenção de quem importa (desenvolvedores) e fora de órbita no que diz respeito a preço — a Motorola pede absurdos R$ 1.899 no Xoom 2 em configuração única por aqui (3G, 32 GB). Procurando no varejo dá para achá-lo em promoções por até R$ 1.400, mas ainda assim é muito caro. Agora com o iPad 2 barateando em preparação à chegada do novo modelo, o único perfil de usuário que vejo comprando o Xoom 2 conscientemente é o fã incondicional de Android que detesta a Apple na mesma proporção. Para todos os demais o tablet da Apple é uma escolha melhor.

Ao Xoom 2 falta o Android rodar mais liso, falta uma adaptação melhor a telas grandes e, principalmente, faltam apps que explorem todo o potencial de 10,1. Com exceção dos nativos do Google, é dificílimo encontrar algo que preste, mesmo entre os ditos (e poucos) já adaptados. Talvez seja a hora, também, de rever alguns padrões como a proporção 16:10, que é uma droga tanto em modo retrato, quanto em modo paisagem — tudo fica sempre apertado ou esticado, sem meio termo.

Se o primeiro Xoom era um exercício de fé no seu lançamento, o Xoom 2 exige ainda mais dos corajosos fiéis que insistirem nessa sequência, ainda no aguardo de algum acontecimento cataclísmico capaz de reverter o atual cenário do Android em tablets. Ele melhora bastante em pontos onde o modelo anterior era fraco, mas ainda fica muito, mas muito aquém de você-sabe-quem. Não foi dessa vez, Google e Motorola.

 

Um comentário:

  1. Vale acrescentar aos desavisados que o Xoom 2 fabricado no Brasil não possui o Gorilla Glass. Esse foi um dos pontos fundamentais para eu escolher este tablet. Infelizmente pude constatar isso da pior maneira possível, com um belo de um arranhão. Acho isso um desrespeito com o consumidor brasileiro. E olha que este tablet custa os olhos da cara.

    PS: Isto também vale para o Galaxy SII brasileiro.

    Por favor, repliquem essa informação. @protomorphos

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